quinta-feira, 28 de junho de 2012


[5 filmes aguardadíssimos]

Amour, de Michael Haneke


Cosmopolis, de David Cronenberg


The Master, de Paul Thomas Anderson


Django Unchained, de Quentin Tarantino


Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge, de Chistopher Nolan


sexta-feira, 1 de junho de 2012

[sete dias com marilyn]


Sete Dias com Marilyn 
My Week with Marilyn, 2011
Simon Curtis


Sete Dias com Marilyn é, digamos, um filme "nada". Um drama romântico rasteiro, que não tem muito a dizer ou acrescentar à imagem conhecida da personagem que retrata. Não que a Marilyn Monroe de Michelle Williams seja o maior problema da obra; a composição da talentosa atriz é bastante eficaz, conseguindo dar vida a uma mulher profundamente sedutora e fascinante. O entrave está mesmo no roteiro, que não se propõe a ir além do que já sabemos sobre Marilyn. Williams simplesmente faz o que lhe foi proposto, e faz bem.
Outra questão: Sete Dias com Marilyn cresce muito quando tem no centro de sua narrativa os embates entre sua protagonista e o Laurence Olivier interpretado com paixão por Kenneth Branagh; mas, infelizmente, o filme logo desvia o foco para o insosso romance entre Marylin e o outro protagonista da trama, o jovem assistente de direção vivido pelo inexpressivo Eddie Redmayne. Com sua cara de bobo, Redmayne só consegue fazer do filme uma experiência enfadonha e desimportante. Por optar por conduzir a trama de seu filme a partir do olhar de um personagem tão fraco, o diretor Simon Curtis perde a chance de realizar um potente retrato do embate entre dois monstros do cinema. Equívocos que transformaram um dos projetos mais promissores do ano passado num filme vazio, do qual se esquece assim que as luzes do cinema se acendem.

domingo, 27 de maio de 2012

Os Vingadores



Talvez X-Men: O Filme e sua sequência X-Men 2 sejam os grandes responsáveis por mostrar que filmes de aventura, inspirados em HQ's e com uma equipe de heróis como protagonista poderiam valer a pena (artística e financeiramente). Talvez O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel também tenha sua dose de responsabilidade nessa história toda, pelo impacto causado e pela capacidade de criar identificação com os personagens que compunham o centro de sua narrativa - e, nesse caso, não deixa de ser curioso que numa determinada cena de Os Vingadores Tony Stark, com seu costumeiro sarcasmo, se refira ao Gavião Arqueiro como "Legolas". Mas, mesmo com esses antecedentes em mente, o projeto de adaptação para o cinema da formação de um equipe com heróis célebres como Homem de Ferro, Capitão América, Thor e Hulk traz um forte aspecto de novidade.

Isso se dá porque Os Vingadores, diferentemente dos filmes citados acima, não é o ponto de partida, mas de chegada, de uma saga. A ambição da Marvel de direcionar todas as suas produções, a partir do lançamento de Homem de Ferro, em 2008, para o filme dos Vingadores, pode ter gerado perdas para as aventuras-solo de alguns heróis (Capitão América, por exemplo). Mas, diante do resultado alcançado por Joss Whedon, fica a sensação de que tudo valeu a pena. Principalmente porque Os Vingadores é um filme de ação exemplar, um típico caso de "filme de porrada", daqueles que levam ao cinema quem está atrás de um bando de figuras com habilidades sobre-humanas derrotando, sem piedade, inimigos genéricos. Whedon não esconde a natureza de sua obra em nenhum momento, o que, por si só, já é um mérito. A própria forma como trata seus personagens é um bom exemplo disso: são todos ícones, já previamente estabelecidos em seus filmes-solo, e a curiosidade está simplesmente em vê-los juntos, em ação contra antagonistas em comum, mas também entrando em choque entre si.

Filmes assim tendem a se transformar, no máximo, em guilty pleasures. Mas Whedon faz tudo com tanta gana e honestidade, que Os Vingadores supera sua trama rasa e seus protagonistas sem profundidade dramática para se transformar no maior prazer, sem nenhuma culpa, do ano cinematográfico.


Os Vingadores 
The Avengers, 2012
Joss Whedon

domingo, 6 de maio de 2012


[xingu]

Xingu 
Xingu, 2012
Cao Hamburger


Na última cena ficcional de Xingu, os irmãos Cláudio (João Miguel) e Orlando (Felipe Camargo) Villas-Bôas, em missão de estabelecer contato com indígenas que nunca conheceram o homem branco, finalmente se deparam com um membro desta tribo: todo pintado de preto, ele olha, desafiador, para os protagonistas. Nesse momento, Cao Hamburger consegue sintetizar os objetivos não só de seu filme, mas do próprio trabalho dos Villas-Bôas. Como impôr à civilização a povos como aquele? Como desrespeitar um mundo tão diverso, simplesmente ignorando suas especificidades?
É uma pena, portanto, que o restante do filme não tenha se espelhado nessa passagem de tamanha força e beleza. O grande problema de Xingu reside em sua necessidade de abarcar um longo período em uma narrativa de menos de duas horas. Hamburger prova que O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias não foi um acidente e entrega um trabalho delicado, uma direção de admirável economia dramática mas, ao mesmo tempo, bastante emocional na forma como lida com a entrega de seus atores (especialmente João Miguel). No entanto, o diretor poderia ter optado ou por um filme maior (tanto na escala narrativa quanto na duração mesmo), um épico emocional-ecológico à lá Dança com Lobos, ou simplesmente ter reduzido seu escopo, mantendo-se num recorte cronológico menor, que se resumisse a acompanhar alguns anos da trajetória dos Villas-Bôas em seu contato com os índios. 
Mas Hamburger escolheu um caminho do meio, que mescla um acertadamente delicado olhar sobre os irmãos protagonistas com uma equivocada tentativa de dar conta de contextos políticos diversos (o filme vai dos anos de 1940 aos de 1970) e seus reflexos sobre o trabalho dos Villas-Bôas. Daí fica a sensação de que Xingu não passa de um resumo apressado daquela história toda. 

domingo, 22 de abril de 2012


[heleno]

Heleno  
Heleno, 2012
José Henrique Fonseca


Talvez pelo fato de raramente o futebol render grandes filmes, José Henrique Fonseca foi buscar no boxe, o mais bem-sucedido cinematograficamente dos esportes, inspiração para filmar a vida de Heleno de Freitas, ídolo do Botafogo na década de 1940: Heleno tem Touro Indomável, a obra máxima de Martin Scorsese, a todo tempo no horizonte. Ou, ao menos, é essa a impressão que fica (mesmo que a referência à biografia de Jake LaMotta não tenha sido proposital) diante da história de um atleta vencedor em seu métier, mas derrotado por seu temperamento explosivo e incapacidade de lidar com o sucesso - e, ainda por cima, filmada em um belíssimo preto e branco.
O grande acerto de Heleno é a coragem de, num país apaixonado por futebol, deixar o esporte em segundo plano, diante da intensa vida de seu protagonista. A trajetória de Heleno, apresentada de maneira fragmentada e sem nenhum grande exagero na dramaturgia, é comovente. É claro que Fonseca não é Scorsese e Rodrigo Santoro não é Robert De Niro. Mas a atuação explosiva deste, hipnótico em cena, e a direção elegante daquele, tornam a comparação com Touro Indomável não uma depreciação a um filme menor pretensioso, mas um elogio gigantesco a uma obra surpreendente em sua qualidade.

terça-feira, 17 de abril de 2012


[um método perigoso]

Um Método Perigoso 
A Dangerous Method, 2011
David Cronenberg


Um Método Perigoso não deixa de ser uma pequena decepção. Ter, num filme de David Cronenberg, Freud e Jung lidando com repressão sexual é um sonho de consumo para qualquer fã do cineasta, afinal, trata-se do sujeito que filmou, entre outras coisas, Crash - Estranhos Prazeres. E vem justamente dessa expectativa a frustração.
Apesar de conseguir manter-se mais intimista, evitando o tom épico costumeiramente presente em cinebiografias de época (algo que o filme, no fim das contas, não pretende ser), Cronenberg e o roteirista Christopher Hampton fazem de Um Método Perigoso uma narrativa episódica, desprovida de grandes momentos. Se pensarmos, por exemplo, nos dois trabalhos imediatamente anteriores do diretor, Marcas da Violência e Senhores do Crime, fica claro que aqui se tem um filme menor. Há alguns acertos nos enquadramentos (nas sessões de psicanálise ou nas conversas entre Freud e Jung, por exemplo) que saltam aos olhos e as interpretações de Michael Fassbender e Viggo Mortensen são ótimas (até Keira Knightley me agradou, apesar do exagero de suas primeiras aparições).  No entanto, Um Método Perigoso padece de um mal maior que não se costuma ver nos filmes de Cronenberg: ao falar de repressão, o diretor parece se auto-reprimir, optando por um registro estranhamente comportado.


[shame]

Shame 
Shame, 2011
Steve McQueen


Shame está longe de ser a história de Michael Fassbender levando um punhado de nova-iorquinas para a cama. Por mais que ele, de fato, faça isso, na verdade o diretor Steve McQueen não tem nenhum interesse em imprimir sensualidade à sua narrativa: tem-se aqui um filme muito, muito triste, sobre um homem esmagado por sua solidão - interpretado por um ator magnífico. Nesse sentido, as cenas de sexo filmadas por McQueen me parecem um termômetro perfeito para definir Shame: todas elas nos mostram um personagem agindo de forma mecânica, simplesmente um viciado na plena satisfação de seu vício. A exceção está naquela que envolve o protagonista e uma colega de trabalho por quem este ousa se interessar efetivamente - e a forma como essa sequência termina fala muito sobre o que é o personagem de Fassbender.
No entanto, curiosamente, o momento mais marcante do filme tem pouco (ou nada) a ver com a condição de sex addicted de seu protagonista: em um bar, Carey Mulligan canta "New York, New York" numa melodia carregada de melancolia, enquanto Fassbender, constrangido, tenta conter toda a tristeza que sente, até deixar escapar uma furtiva lágrima. Ali, Shame se mostra, para além de toda a trajetória de dor de um homem viciado em sexo, como uma simples história sobre duas pessoas engolidas pela vida de forma impiedosa. É de cortar o coração.