quarta-feira, 7 de março de 2012


[drive]

Drive 
Drive, 2011
Nicolas Winding Refn


Drive é um filme simples. Muito simples, na verdade. Nicolas Winding Refn (de quem só havia assistido ao esquisito O Guerreiro Silencioso) é bastante direto na condução de sua trama, sem subterfúgios, sem enrolação: apresenta seu protagonista em ação já na primeira sequência e não demora muito para deixar claro o que está por acontecer na vida daquele sujeito, uma paixão proibida e o envolvimento com mafiosos barra-pesada. Mas tudo é feito com tanto cuidado e competência, que o resultado é de encher os olhos. Até porque Refn parece ter um talento especial para criar cenas memoráveis.
Ryan Gosling é o centro das atenções, claro, com uma composição minimalista de um sujeito de gestos mínimos. Vez ou outra é possível enxergar no motorista sem nome uma pontinha de alegria em um sorriso de canto de boca, ou a paixão que sente na forma como olha para a personagem de Carey Mulligan, mas Gosling é inteligente o bastante para não tentar fazer desses sentimentos elementos de catarse do personagem, através de sua externação em algum momento da narrativa - o ator se mantém, na maior parte do tempo, impassível, construindo uma figura enigmática e verdadeiramente ameaçadora, com forte potencial para se tornar um ícone do cinema contemporâneo. No entanto, há de se dar destaque a alguns coadjuvantes: os comoventes Oscar Isaac e Bryan Cranston e o assutador Albert Brooks, que me lembrou bastante Joe Pesci em Os Bons Companheiros.
Outro elemento que merece destaque em Drive é a violência de algumas cenas. Winding Refn não pontua toda sua narrativa com atos brutais mas, quando estes acontecem, o diretor os filma de forma bastante crua, gráfica mesmo. O efeito sob o espectador é devastador. Nesse sentido, me veio à memória a obra-prima Marcas da Violência, de David Cronenberg, no qual a violência recebeu um tratamento bastante parecido com esse. Aliás, está aí outro filme simples e extremamente poderoso. É sobre a simplicidade que se ergue o grande cinema.

2 comentários:

Mayara Bastos disse...

Só leio comentários acima da média sobre este filme (incuíndo a sua). Quero muito ver, mais pelo Ryan. ;)

Rafael Carvalho disse...

Vindo de uma outra tradição de cinema, é muito interessante como Refn imprime uma marca muito pessoal para Drive (o que acontece com o recente Shame), ao mesmo tempo em que é uma história estritamente americana. Mas foge bastante do convencional, seguindo muitas vezes por caminhos inesperados, o que é sempre bem-vindo. Além disso, tem vigor e charme, mesmo que em meio ao mundo violento em que seu protagonista está inserido.