sábado, 11 de junho de 2011

X-Men: Primeira Classe



Quando assisti X-Men: O Confronto Final, em 2006, tive a sensação de ver diante de mim a morte de uma franquia que tinha sido, até então, brilhante. Não que o longa de Brett Ratner fosse ruim - não era, há inclusive alguns grandes acertos nele -, mas na comparação com a complexidade do universo apresentado por Bryan Singer no ótimo X-Men - O Filme e na obra-prima X-Men 2, O Confronto Final parecia apenas um encerramento confuso e apressado para a saga dos mutantes no cinema. Bem, depois veio a bomba X-Men Origens: Wolverine, e a certeza de que a fonte secara era inevitável. E eis que vem de Matthew Vaughn, o sujeito que iria primeiramente dirigir X-Men: O Confronto Final, essa agradabilíssima surpresa chamada X-Men: Primeira Classe.

O grande mérito de Vaughn está justamente em não cair nos erros cometidos nos dois últimos filmes da série. Em primeiro lugar, traz de volta para o centro da narrativa o debate sobre preconceito e auto-aceitação, apresentando-o novamente com a seriedade vista nos filmes de Singer. Nesse sentido, o fato de X-Men: Primeira Classe ser um longa de ação se torna um mero detalhe - o que realmente importa nele são as reflexões propostas por seu diretor e roteiristas, algo que nunca esteve perto de acontecer no acéfalo Wolverine, por exemplo. Além disso, e o que talvez seja ainda mais importante (já que o debate sobre preconceito estivera presente em O Confronto Final, e mesmo assim o filme era uma bagunça), Vaughn demonstra um enorme cuidado no tratamento dado a seus personagens. Não há pressa em apresentá-los e desenvolvê-los, o que torna o drama de cada um deles - dos protagonistas Charles Xavier e Erik Lensheer a coadjuvantes como Mística e Fera - palpável, verossímil. E esse cuidado abre espaço para que alguns dos atores entreguem desempenhos excepcionais. Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult e Kevin Bacon estão ótimos, mas são mesmo James McAvoy e Michael Fassbender que dão um show à parte - especialmente o segundo, que compõe um personagem cheio de nuances, um homem dotado de grande nobreza, mas ao mesmo tempo movido por seu desejo de vingança (sentimento que, aliás, gera algumas das melhores sequências do filme, como a que se passa na Argentina e o confronto final de Erik com seu antagonista). O mérito de McAvoy e Fassbender aqui é duplo: conseguem nos fazer crer que os personagens aos quais dão vida são aqueles que, no futuro, se tornarão os vividos por Patrick Stewart e Ian McKellen nos primeiros filmes da franquia; e conseguem, por outro lado, dar vida própria, independente, aos seus Charles Xavier e Erik Lensheer.

Vida própria, aliás, é um bom termo para definir Primeira Classe, e encaixá-lo na saga dos X-Men no cinema. É um filme que retoma a qualidade perdida dos dois primeiros longas, que bebe do universo criado por Bryan Singer, mas que, no fim das contas, só funciona tão bem por ser capaz também de criar um universo que é seu, de construir personagens e situações que são fortes naquela narrativa, independentemente de qualquer outro filme. Primeira conclusão disso tudo: Matthew Vaughn deveria ter dirigido X-Men: O Confronto Final. Segunda conclusão disso tudo: nunca é tarde para acertar.


X-Men: Primeira Classe 
X-Men: First Class, 2011
Matthew Vaughn

5 comentários:

Alan Raspante disse...

Não assisti nenhum dos anteriores e nem sou fã da saga e tudo mais, porém, fiquei super curioso em conferir =)

Rafael Carvalho disse...

Bom lembrar também que Matthew Vaughn dirigiu anteriormente Kick-Ass que é bem divertido, mas já demonstrava o apuro dele em contar uma história de entretenimento sem perder o valor dado aos personagens. E ainda bato na tecla de que O Confronto Final é um bom filme, melhor incusive que o primeiro X-Men. Mas enfim, Primeira Classe consegue andar sozinho, mesmo que esteja em estreita afinidade com os outros filmes da série.

Anônimo disse...

Fantástico! O melhor da série!

http://filme-do-dia.blogspot.com/

Wallace Andrioli Guedes disse...

Rafael, é isso mesmo, o filme se relaciona muito bem com o resto da série, mas caminho com suas próprias pernas. Adoro KICK-ASS, e acho O CONFRONTO FINAL um bom filme sim, mas que poderia ter sido muito mais. Faltou cuidado e sobrou pressa.
Kahlil Affonso, melhor filme da série é um pouco de exagero, não? X-MEN 2 continua imbatível para mim.

Película Criativa disse...

Não tinha grandes expectativas com o filme, mas ele me surpreendeu!