[wall street: o dinheiro nunca dorme]
Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme
Wall Street: Money Never Sleeps, 2010
Oliver Stone
Oliver Stone
Acho admirável que um diretor resolva fazer uma continuação de alguma obra sua por motivos autorais, sem cair na tão comum lógica das franquias cinematográficas. É o caso desse Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme, continuação de Wall Street: Poder e Cobiça, de 1987, que deu a Michael Douglas o Oscar de melhor ator. Por mais que o personagem de Douglas, Gordon Gekko, fosse marcante (e ele era), isso não parecia ser o suficiente para apontar para a realização da sequência de um drama sobre o mundo da especulação financeira, que, no fim das contas, se resolvia muito bem. E mais difícil ainda seria imaginar alguém como Oliver Stone topar comandar uma sequência como essa.
Pois reside justamente aí o caráter autoral do novo Wall Street. Cineasta conhecidamente de esquerda, Stone aceitou retornar a Gekko e àquele mundo onde a ganância é boa pois viu ali uma excelente oportunidade para apresentar sua visão sobre a mais recente crise econômica mundial. Essa é a justificativa primordial para a existência do filme. Nesse sentido, Wall Street 2 é tudo o que se poderia esperar de um trabalho do bom e velho Oliver Stone: ácido, implacável em suas críticas, e permeado por performances memoráveis de seus atores. Shia LaBeouf confirma ser um dos atores jovens mais talentosos da atualidade; Carey Mulligan surge graciosa e cativante; Frank Langella comove com seu personagem trágico carregado de dignidade. Mas é Josh Brolin quem rouba a cena, como um inescrupuloso vilão, a incorporação mais assustadora do capitalismo selvagem e destrutivo. Seu personagem é o equivalento ao Gekko do filme de 1987, e são de Brolin as melhores cenas e falas do filme (há um diálogo particularmente marcante com LaBeouf, onde sua resposta a uma pergunta deste sintetiza perfeitamente todo aquele universo).
Mas, e Gekko? Apresentado inicialmente como uma aparente peça anacrônica em um mundo moderno (assim como seu celular), o personagem de Michael Douglas acaba se revelando mais atual que nunca. Ganancioso, ardiloso e manipulativo, Gordon Gekko continua totalmente compatível com a lógica capitalista do século XXI. No entanto, algo mudou no personagem, depois de 8 anos na prisão. Todo o sofrimento causado à família parece ter despertado uma pontinha de humanidade no sujeito que Stone e Douglas se mostram dispostos a ressaltar. E reside aí o maior problema de Wall Street 2. Douglas está excelente, como seria de se esperar, e sua composição dessa faceta humana de Gekko é irretocável. O problema é que esse olhar mais sentimental para o personagem parece simplesmente não combinar com os propósitos do filme. Confesso que senti falta de seu cinismo detestável que tornava o longa original tão inesquecível. Numa obra sobre capitalistas selvagens, a humanização excessiva de Gekko (que chega a garantir um final feliz para sua história) soa como atenuação de seus atos, diminuindo a acidez da crítica proposta por Stone. Foi por isso que, se fui ao cinema para matar a saudade do personagem mais marcante da carreira de Michael Douglas, saí de lá impressionado mesmo com o Bretton James de Josh Brolin.
Pois reside justamente aí o caráter autoral do novo Wall Street. Cineasta conhecidamente de esquerda, Stone aceitou retornar a Gekko e àquele mundo onde a ganância é boa pois viu ali uma excelente oportunidade para apresentar sua visão sobre a mais recente crise econômica mundial. Essa é a justificativa primordial para a existência do filme. Nesse sentido, Wall Street 2 é tudo o que se poderia esperar de um trabalho do bom e velho Oliver Stone: ácido, implacável em suas críticas, e permeado por performances memoráveis de seus atores. Shia LaBeouf confirma ser um dos atores jovens mais talentosos da atualidade; Carey Mulligan surge graciosa e cativante; Frank Langella comove com seu personagem trágico carregado de dignidade. Mas é Josh Brolin quem rouba a cena, como um inescrupuloso vilão, a incorporação mais assustadora do capitalismo selvagem e destrutivo. Seu personagem é o equivalento ao Gekko do filme de 1987, e são de Brolin as melhores cenas e falas do filme (há um diálogo particularmente marcante com LaBeouf, onde sua resposta a uma pergunta deste sintetiza perfeitamente todo aquele universo).
Mas, e Gekko? Apresentado inicialmente como uma aparente peça anacrônica em um mundo moderno (assim como seu celular), o personagem de Michael Douglas acaba se revelando mais atual que nunca. Ganancioso, ardiloso e manipulativo, Gordon Gekko continua totalmente compatível com a lógica capitalista do século XXI. No entanto, algo mudou no personagem, depois de 8 anos na prisão. Todo o sofrimento causado à família parece ter despertado uma pontinha de humanidade no sujeito que Stone e Douglas se mostram dispostos a ressaltar. E reside aí o maior problema de Wall Street 2. Douglas está excelente, como seria de se esperar, e sua composição dessa faceta humana de Gekko é irretocável. O problema é que esse olhar mais sentimental para o personagem parece simplesmente não combinar com os propósitos do filme. Confesso que senti falta de seu cinismo detestável que tornava o longa original tão inesquecível. Numa obra sobre capitalistas selvagens, a humanização excessiva de Gekko (que chega a garantir um final feliz para sua história) soa como atenuação de seus atos, diminuindo a acidez da crítica proposta por Stone. Foi por isso que, se fui ao cinema para matar a saudade do personagem mais marcante da carreira de Michael Douglas, saí de lá impressionado mesmo com o Bretton James de Josh Brolin.
2 comentários:
Cara, acredita que eu não vi nem o primeiro Wall Street? Tô com ele aqui no meu PC, esperando para poder conferir. E sem mesmo sem ter visto os filmes, acho muito interessante o Stone retomar a história porque a conjuntura políco-econômica hoje é outra e bastante propícia a essa disussão.
Pois é, Rafael, está justamente aí a força autoral do filme. E vale a pena ver o primeiro Wall Street, que acho, por sinal, melhor que essa continuação.
Postar um comentário