[curtinhas: no cinema]
Um Homem Sério
A Serious Man, 2009
Ethan Coen & Joel Coen

Ver personagens que representam pessoas "comuns" sofrendo em filmes do irmãos Coen não é exatamente uma novidade. Nesse sentido, Um Homem Sério parece encaixar-se perfeitamente em sua filmografia. No entanto, a obra representa também uma certa ruptura: de Gosto de Sangue a Onde os Fracos Não Têm Vez, passando por Barton Fink, Fargo, Queime Depois de Ler e outros, as "vítimas da vez" só se transformavam em tal ao cometerem alguma atitude tida como estúpida, que gerava então uma série de consequências – geralmente violentas. Em Um Homem Sério não. O personagem vivido pelo genial Michael Stuhlbarg não só é uma pessoa "comum", mas é também o que poderíamos chamar de "homem bom". Não comete nenhuma grande estupidez, nenhum crime (pelo contrário, é mesmo acusado de um crime de extorsão que não cometeu realmente), e, ainda assim, uma tempestade de tragédias despenca sobre sua cabeça. Por quê? Seria a maldição da cultura judaica, mostrada no prólogo do filme (e seria este, então, um comentário dos Coen sobre a jornada trágica dos judeus ao longa da história humana)? Acaba que, diante do final avassalador de Um Homem Sério, ficamos mesmo sem uma resposta concreta – afinal, a vida raramente trás respostas realmente exatas. Mas ganhamos uma pequena obra-prima
Um Sonho Possível 
The Blind Side, 2009
John Lee Hancock

Durante boa parte da "corrida" para o Oscar 2010, um filme sobre esporte esteve presente na lista de possíveis indicados a melhor filme: Invictus, de Clint Eastwood. Acusado de "quadrado", clichê e melodramático, no entanto, o retrato da África do Sul de Mandela acabou esquecido, e um outro "filme de esporte" entrou em seu lugar: este Um Sonho Possível (que título sofrível e preguiçoso!), mais conhecido como "o filme pelo qual Sandra Bullock ganhou o Oscar". A verdade é que Um Sonho Possível é tudo o que Invictus foi acusado de ser, e na verdade não era: é um imenso lugar-comum, uma história de superação banal, "quadrada", formulaica, irritante de tão previsível. Não há um momento verdadeiro no filme (ao contrário do que ocorre na obra de Eastwood), e só sendo mesmo muito pouco exigente para conseguir se emocionar com essa bobagem. Ruim, muito ruim.
Ah, e a Sandra Bullock... bem, ela está bem, verdade seja dita. Tem uma personagem carismática nas mãos, e a interpreta com competência. Mas, Oscar? Foi mesmo um ano fraco (Meryl Streep também não merecia, pela bomba Julie & Julia), mas que dessem a estatueta para uma novata, qual o problema? Carey Mulligan e Gabourey Sidibe estavam à disposição. Era só escolher.
Direito de Amar 
A Single Man, 2009
Tom Ford

Plasticamente esplendorosa, a novela mexicana Direito de Amar... perdão, my mistake, mas é que com um título como esse... enfim, o filme A Single Man (na verdade, esse título brasileiro merece entrar para a história como um dos piores trabalhos de tradução já realizados no país, o que, levando-se em conta as barbaridades já cometidas por aqui neste campo, não é pouco) peca por seu roteiro vazio. O estilista Tom Ford, em sua estreia como diretor de cinema, parece contentar-se em criar uma imagem mais bela que a outra - algo que faz com imenso talento, especialmente através das mudanças no tom da fotografia que, confesso, me conquistaram –, mas esquece de contar a poderosa história de amor que tinha em mãos. Daí, resta para salvar o filme, além de seu visual, um impressionante Colin Firth: o ator inglês, tradicional coadjuvante de comédias e dramas românticos, constrói um protagonista sofrido, melancólico, encantador em sua dolorosa solidão, e, acima de tudo, humano. Firth preenche a tela em momentos de silêncio absoluto, e nem mesmo uma ótima Julianne Moore consegue competir com sua presença magnética. Talvez fosse o caso de dizer que Direito de Amar pertence a Colin Firth. Mas não: o filme, em toda sua fragilidade, pertence mesmo a Tom Ford, o que acaba sendo uma pena.