domingo, 11 de setembro de 2011


[melancolia]

Melancolia
Melancholia, 2011
Lars von Trier


Perdido em algum lugar entre Festa de Família e Anticristo, Melancolia é um filme admirável de Lars von Trier. Em sua primeira metade - após um impressionante prólogo com câmera hiper-lenta no mesmo estilo de seu filme imediatamente anterior -, parece um mezzo retorno do diretor ao Dogma 95. Câmera na mão para registrar uma festa de casamento, que em muito lembra aquela reunião familiar do inesquecível filme de Thomas Vinterberg - não fossem os inúmeros rostos conhecidos em cena (Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg, Kiefer Sutherland, John Hurt, Charlotte Rampling, Stellan Skarsgard, Udo Kier) e seria possível acreditar em uma reaproximação de von Trier com o movimento que o tornou célebre. A parte 1 de Melancolia é visceral e pessimista em seu olhar sobre as relações familiares, alicerçada sobre o impressionante desempenho de Dunst, que exala uma desesperadora tristeza em cada pequeno gesto de sua personagem. De cortar o coração também é a figura do noivo, vivido por Alexander Skarsgard, com suas inúmeras e inócuas tentativas de fazer da Justine de Dunst uma mulher "normal", enquadrada nas normas sociais que uma ocasião como aquela costuma exigir.
Já a segunda metade, mais centrada em Charlotte Gainsbourg, é o momento em que Melancolia se assume como (na falta de melhor definição) "filme-catástrofe". Mas, que fique bem claro, um filme-catástrofe de Lars von Trier - não há espaço para fãs de Roland Emmerich aqui. O cineasta dinamarquês mantém sua câmera (agora bem menos inquieta) no mínimo, no cotidiano de quatro personagens à espera da passagem do tal planeta que dá nome ao filme diante da Terra, e extrai deles momentos que vão do desesperador (no auge da depressão, a personagem de Dunst parece saída diretamente de Gritos e Sussurros) ao sublime (a cena final). Cena final, aliás, que explode na tela de forma acachapante, encerrando o doloroso painel da condição de pequenez humana apresentado por von Trier. O efeito, especialmente para quem compartilha do pessimismo do diretor com relação a existências para além deste mundo (meu caso), é devastador.

5 comentários:

Alan Raspante disse...

Mais um filme que estou louco pra ver, mas ainda nem apareceu nos cinemas da minha cidade... Fazer o que, né? O jito é ter esperança! rs

Abs.

Wally disse...

O efeito é de fato devastador. Te manda para fora um tanto transtornado, sentindo aquele vazio personificado pela Justine. Filmão.

Mayara Bastos disse...

Quero muito ver! :)

Anônimo disse...

Não sou o maior fã do Lars Von Trier, mas gosto bastante de Dogville e ainda preciso assistir a Dançando no Escuro.

Admiro sempre a coragem dele e tô com boas expectativas para esse!

Abraços.

Rafael Carvalho disse...

Cara, confesso que Festa de Família e Anticristo não me soam como boas referências, nem gosto do início do longa que me parece exibido demais. Mas gosto bastante do resto do filme, um dos grandes do ano, isso porque todas as provocações do Von Trier possuem sustentação dentro da narrativa, tanto temática como esteticamente. O contraponto das duas irmãs e o percurso emocional (e contrário) que as duas percorrem têm razão de ser, embalado pelo que poderíamos chamar de pessimismo, que aqui ganha ares de paz interior quando se compreende (ou que Justine compreende) que o fim chegará para todos nós.