[os descendentes]
Alexander Payne
O cinema de Alexander Payne se enquadra no que poderíamos chamar de indie com pedigree. Ao menos desde As Confissões de Schmidt, suas narrativas são construídas sobre personagens médios, figuras apartadas de alguma forma do mundo em que vivem, e que passam por um processo de auto-conhecimento e transformação (ainda que sem grandes catarses). Schmidt, Sideways e esse Os Descendentes são daqueles filmes que, apesar de manterem os pés fincados na raiz independente de seu diretor, estão sempre um nível acima da maior parte do que é produzido nesse nicho, primordialmente por serem obras carregadas de delicadeza e maturidade.
Não há nada de muito diferente ou ousado em Os Descendentes, mas o cuidado com que Payne apresenta os dramas vividos por seus personagens, permanecendo o tempo todo num registro minimalista, sem grandes rompantes de emoção (o que acaba gerando alguns belos momentos), é absolutamente admirável - apesar de não chegar a uma narrativa de não-ação à lá Sofia Coppola, o diretor consegue evitar, na maior parte do tempo, exageros dramáticos, apostando sempre no mais simples, dando vida a um filme que soa bastante sincero. Quem mais se beneficia dessa sua delicadeza é George Clooney, que, despido da persona de galã de meia-idade que naturalmente envolve a maior parte de seus trabalhos como ator, entrega um desempenho cheio de pequenas nuances, carregado de uma fragilidade comovente. Payne também é daqueles raros diretores capazes de transformar um mega-astro em uma figura meramente comum diante de nossos olhos - Clooney não foi o primeiro, Jack Nicholson passou por processo ainda mais radical em As Confissões de Schmidt -, com o simples e justíssimo propósito de fazer grandes filmes sobre o que há de mais simples na vida. Conseguiu de novo.